Texto Curatorial
Coordenador-Geral
Museus são espaços de educação, memória e pesquisa. Em tempos de crises e novas reflexões sobre sua função social, canalizamos esses impulsos para nos guiar a uma nova museologia, na qual o sentido de prestação de serviço à comunidade seja mais importante do que a guarda pela guarda, o despejo de informações enciclopédicas e o uso da tecnologia sem propósitos.
Falamos da construção de ambientes mais participativos, em que a memória social esteja ligada a formação de canais de educação e a uma compreensão maior do nosso papel transformador. Em outras palavras, devemos refutar os modelos museais focados no conhecimento linear e na obsessão pelo número de visitantes, desprezando verbos como “compartilhar”, “colaborar” e “participar”.
Essa é uma premissa fundamental: museus têm responsabilidade social. Eles precisam dialogar com a sociedade, interagir com seu entorno, enfim, entender onde estão localizados. Não podem ser bolhas de conteúdo. Nossa geração tem a oportunidade de reduzir a aura mítica dos museus e aterrissarmos numa realidade e numa temporalidade em que eles possam abraçar a sociedade, participar das pautas públicas e criar formas mais contemporâneas de engajamento do público a partir de narrativas plurais, inclusivas e, principalmente, educativas.
A abertura do acervo do Museu do Holocausto de Curitiba para pesquisa – antes de forma esporádica – é uma das consequências dessa aspiração e hoje ocorre de forma sistemática, com projetos de extensão e abertura de editais. Caso de “Artistas Encontram Testemunhos”, fruto da preocupação do museu em dialogar, produzir conhecimento e levar o protagonismo não ao acervo, mas na relação que se constrói com todos os públicos. Nesse processo em parceria com a UNESPAR, a criação de um projeto de arte multidisciplinar deu a oportunidade para que estudantes não apenas conhecessem o acervo do Museu, mas explorassem narrativas marcantes desse genocídio e dessem vida a novas expressões artísticas.
Treze anos após a inauguração, atingimos nossa “maioridade” compreendendo que diferentes entornos demandam distintas abordagens para a construção de uma memória universal do Holocausto. Nesse caso, um esforço por meio da arte que, como destacou o historiador Ernst Fischer, é uma necessidade humana e um meio de colocar o ser humano em estado de equilíbrio.
Carlos Reiss
Coordenador-Geral do Museu do Holocausto de Curitiba